A Percepção nasce da Intimidade

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Certa vez um cego de nascença que queria ver foi levado até um mestre local chamado Jesus, reconhecido como um homem sábio e com poderes considerados elevados.

O mestre misturou seu cuspe com o barro, colocou nos olhos do cego, limpou, e lhe perguntou: “O que você vê?” O homem respondeu: “Vejo árvores que andam”. Repetiu o procedimento, e perguntou novamente: “E agora, o que você vê?” E ele via claramente, de perto e ao longe.

Havia nessa história uma situação de sofrimento  longo. Do sofrimento criou-se uma intimidade – nada mais íntimo do que o cuspe. Da intimidade nasceu uma maior e melhor percepção de si, do outro e do mundo.

Penso que essa história metafórica joga luz e serve para você entender duas questões: De que se trata uma psicoterapia ou análise? O que você busca ao procurar um espaço para tratar de questões emocionais ou um psicólogo?

A cura do sofrimento é resposta mais imediata. Mas o caminho para esse objetivo passa pela criação de uma intimidade que foge aos padrões de um relacionamento cotidiano, de distanciamento.

A psicoterapia é um relacionamento humano, em que através de uma conversa você vai informando ao profissional, de forma a mais verdadeira possível o que você vê, pensa, sente e interpreta o mundo.

Essa possibilidade de dizer as coisas que normalmente você não tem coragem de dizer cria uma intimidade.

Quando um paciente chega a primeira vez diante de mim, faço um pacto com ele. Sem esse pacto não há análise. Esse pacto é simples.

Primeiro, o paciente se disporá a falar livremente tudo o que lhe vier a mente. Não há certo e nem errado. Ali tudo é permitido falar. E, segundo, para garantir a liberdade de dizer tudo, pactuamos que o que for dito permanecerá como um segredo entre nós. Fazemos um pacto mutuo de sigilo.

Ali a verdade pode ser dita sem medo. Sem medo de ser discriminado, agredido, desprezado ou humilhado, e sem precisar se esconder… Simplesmente dizer.

E aí acontece algo que, ao acontecer, inevitavelmente nos deixa perplexos… começamos a ver aquilo que não percebíamos, a enxergar as coisas simples sob nova luz… a vida, suas ações e reações, as pessoas, os próprios medos, seus sonhos, e até aquela sua tristeza de estimação.

Do ponto de vista técnico, é tornar conhecido o desconhecido, a tornar consciente o inconsciente.

Mas a tecnica é apenas uma forma de condensar uma jornada cheia emoções as mais variadas, de paisagens mal vistas e percepções mais humanizadas.

À medida que o tempo passa, a verdade sobre si mesmo  e sobre o mundo vai ganhando forma, contornos, luzes, sombras, som, sabores e até aromas.

Mas você pode permanecer como está, com o seu sofrimento sem sentido, sem claridade, sem sabor ou amargo.

O custo disso é o aumento da sua dependência do outro e a diminuição da sua própria autonomia. Em outras palavras, a perda da sua liberdade.

Isso até que você se disponha a estar diante de alguém que verdadeiramente esteja interessado em lhe ouvir, e intimamente lhe pergunte: “O que você vê?

Carlos Augusto Rodrigues de Souza

Psicólogo –  Mestre em Psicologia Clínica

19 99144-4084 (whatsApp)

Palestra: As Máscaras da Depressão – Sábado – 16/07 às 9h30

As Mascaras de Depressao 2Palestra: As Máscaras da Depressão –

Sábado – 16/07 às 9h30

Dia 16 de Julho teremos  mais uma edição da Palestra “As Máscaras da Depressão”, conduzida pelo psicólogo Carlos Augusto Rodrigues de Souza.

A palestra tratará sobre os sintomas da depressão e suas máscaras, apontando caminhos de cuidado e formas de tratamento.

Se você está em sofrimento e precisa de apoio ou se tem algum familiar que sofre de depressão, vale a pena participar.

Data

16 de Julho de 2016  das 9h30 às 11h30

Local

Rua Gonçalves Cesar, 86 sala 5 – Jardim Guanabara – Campinas SP

Fone 19 3241-3281

Inscrição:

Envie email para carlospsicocampinas@gmail.com e comunique participação, e aguarde confirmação.

Taxa de Inscrição:

Contribuição de 2 kg de alimento não perecível, que será recebido no local (será encaminhada para instituição que trabalha com famílias necessitadas.

Atenção:

Vagas  Limitadas!

 

 

Palestra: As Máscaras da Depressão – 16/07 sábado às 9h30

 

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Fazer Psicoterapia

 

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“Abrir o coração” à outra pessoa, falar do sofrimento e dos sonhos para alguém confiável é saudável, é um presente para a humanidade, recomendado inclusive nas Escrituras, esse tesouro de palavras reunidas, que associa a fala da dor à cura.

A psicanalista francesa Françoise Dolto em Os Evangelhos à Luz da Psicanálise diz que o papel da análise, ou psicoterapia, é possibilitar perdão, ou seja, a pessoa poder se perdoar. Falar a alguém do próprio sofrimento, é como bálsamo refrescante sobre uma ferida aberta. Devidamente cuidada, vai se fechando, fechando… e cicatriza.

Para isso tem que haver a interlocução de alguém idôneo. Suponho que muitos vezes jogamos “pérolas aos porcos”. Ou seja, falamos para pessoas que, mesmo sendo boas e tendo ótimas intenções, não estão preparadas, humana e tecnicamente, e por isso não sabem valorizar nossos sentimentos, e pouco compreendem nossa história. Encontrar alguém idôneo para ouvir é um achado. E isso é possível.

Ao falarmos para uma pessoa idônea sobre o que acontece conosco, novos mundos e possibilidades vão se desenhando para nós. De repente, dizemos coisas que existiam em nosso interior sem nosso conhecimento. É como se disséssemos para dentro de nós mesmos: “Haja luz”. É sempre uma surpresa!

“Abrir o coração”  é retirar de nós entulhos de sofrimentos, cacos de vidas, restos que resistem, e que nos impedem de sermos quem somos ou podemos ser. Mas também é encontrar palavras e sentimentos esquecidos, que vão gerar novas e leves maneiras de viver. Isso não é para qualquer um. É preciso ter coragem. E coragem a gente conquista.

Seu sofrimento é único

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A resistência em tratar um sofrimento psíquico (mental) é natural. Num primeiro momento, hesitamos. Depois, assumimos que precisamos de ajuda, e o procuramos. Mas, há aqueles que ignoram, escondem, guardam e carregam o sofrimento dentro de si. Até que num determinado momento este sofrimento se impõe e transborda. E quando o sofrimento transborda não tem mais jeito. A necessidade de ajuda é urgente.

Ajuda urgente significa que a pessoa não consegue mais trabalhar, sente-se estagnada, o relacionamento afetivo fica insuportável, e a pessoa não aguenta mais a si mesma. Sua mente trava, e seu corpo grita através de várias dores. São sintomas das mais variadas ordens. Estes sintomas são formas de ordenar, de organizar o próprio sofrimento.

Não poucas vezes fui indagado se já tratei de pessoas com determinado sintoma. A resposta é sim e não. Sim já tratei de pessoas deprimidas, ansiosas, com problemas psicossomáticos e problemas em seus relacionamentos, pânico, e por aí vai. Mas estas formas de organização do sofrimento são apenas a ponta do iceberg.

Cada pessoa é única, e sua história singular. Logo, seu sofrimento também será único e singular. Mesmo que seus sintomas sejam semelhantes a uma organização depressiva, por exemplo, sua depressão será única no mundo. Não existirá nenhuma semelhante à sua.

Por isso, mesmo com todo conhecimento e experiência profissional, diante de um paciente novo…  sei que aquela experiência será diferente, que terei diante de mim uma pessoa que porta uma verdade sobre si e sobre o mundo únicas, que só ela tem. Seu percurso psicoterápico, portanto, será único, singular, e novo.

O sofrimento tem uma organização que comunica algo sobre a vida da pessoa. Mais ainda, ele mostra o quanto esta pessoa é potente. Mas esta potência, que neste momento, gravita em torno do sofrimento, faz falta em outras áreas de sua vida.

É isso que dá a ela a sensação de falta de energia e de vazio. A pessoa desloca uma força significativa para conter o próprio sofrimento. À medida que a pessoa vai sendo cuidada, sua força vai sendo liberada, para ser usada de forma criativa, em prol de si mesma, do próximo, e de seus projetos de vida.

Para não dizer que não falei……..

Depressed Teenage Girl

Eu prefiro não falar desse tema. Dele só se fala baixinho, quase sussurrando. Ninguém gosta de falar dele. É vergonhoso. Imagina se descobrem que alguém da família foi acometido de tamanho mal. O que vão dizer de mim?

O sociólogo Émile Durkheim fez disso o tema de sua pesquisa sociológica. Diz ele que isto acontece sempre que há um estado de anomia na sociedade. Anomia significa ausência de lei, quebra da lei. Ou poderíamos dizer, de uma quebra da lei dentro de si mesmo, psíquica.

Talvez seja por isso. É algo que vai contra a lei. Até boletim de ocorrência tem que fazer. Então é difícil até falar. É como se estivéssemos cometendo um pecado pessoal, social e até espiritual. Quando alguém vive esse drama fora da lei os jornais não noticiam. E se noticiam, dizem que a pessoa foi encontrada. De ativa passa a ser passiva.

Sei que estou enrolando para dizer…. Mas não quero falar. Desse tema só se fala dando voltas, abstraindo, quase dizendo sem dizer, por inferências ou metáforas fora da ordem. Imagino que você sabe do que estou falando, se é que já não desistiu de continuar a leitura.

A questão é que para se chegar onde se chegou a pessoa deu várias voltas e mostras, recados, pedidos de socorro, e não foi ouvida ou entendida. Ou não se sentiu ouvida e entendida apesar dos esforços de quem estava ao lado. Até que chegou num momento sem volta. Então, aconteceu. O que fazer? O que levou a tal ato impensado?

É assim… ela quase disse, deu todas as amostras. Muitas mandam cartas, escolhem os caminhos da execução, preparam o cenário e avisam. Mas quem está ao lado não acredita. Diz de si para si e para outras pessoas, “quem quer mesmo não fala, vai e faz.” Mas não é bem assim.

Se recebo alguém e percebo que sua depressão é avassaladora, pergunto sem rodeios: “Você tem pensamentos de fazer algo contra si? Você pensa em se matar? Você tem planos? O que você pensou? Isto não é indução. O melhor é a pessoa falar para eu poder ajudá-la. Só o fato de falar com alguém, de confiar em alguém já é o início da ajuda à pessoa.

Se alguém chega e diz que vai fazer algo contra si, que já sabe como, e já tem os meios para colocá-lo em pratica, não tenha dúvidas ela vai fazer, aja! Com isso não se brinca. Eu ajo imediatamente. Não quero ter surpresas.

Faço alianças com esta pessoa…Chamo a família e a oriento, e quando não há família chamo os amigos significativos, enfim quem naquele momento pode dar suporte efetivo. Também, encaminho ou levo ao médico ou ao pronto socorro, se não há alguém disponível para isso. Enfim, ajo. A vida é um bem a ser cuidado.

Ah, ia esquecendo de dizer, depois que uma pessoa comete algo contra si, a possibilidade de vir cometer outro ato é altíssima segundo a literatura científica. Então toda ajuda é bem-vinda: as agências de sentido, como as igrejas e instituições de pertencimento, o remédio dado com orientação medica, a psicoterapia, o apoio de amigos e familiares….  Enfim, tudo o que for possível para disponibilizar cuidado efetivo.

É assim a pessoa antes do ato suicida: uma vontade imensa de falar sem se permitir dizer. Uma vontade imensa de gritar sem poder se ouvir, sem se poder dizer, pois lhe falta voz, lhe falta o ar, estrangulada pela angustia que lhe sufoca e quase grita, na ante sala do não ser, em seu estágio final da depressão.

Como Escolher Um Psicólogo

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“Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos, caso contrário, estes as pisarão e aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão.” Evangelho de Mateus

Há momentos que desejamos e precisamos que alguém nos ouça de verdade. A medida que o tempo passa, este desejo pode se tornar uma necessidade. E aí surge a pergunta: Com quem posso falar? Quem pode me escutar?

Há riscos quando dividimos com outros os segredos do nosso coração, eles são sagrados para nós. São tão preciosos, que escolho a dedo a quem falar. Pois é ingênuo achar que qualquer pessoa está pronta ouvir o que tenho para dizer. Não está.

Ouvir o outro pode ser uma tarefa penosa para algumas pessoas, por despreparo pessoal e técnico. Há assuntos que a pessoa não aguenta ouvir sem ser afetada. Quando isto acontece ela passa a ouvir o outro de dois modos possíveis.   São modos de ser e de interagir que causam sofrimentos a quem arrisca falar de sua vida a elas.

O primeiro modo é o ouvir agressivo, violento, metaforizado pela imagem dos cães, em que o outro é destruído, ou devorado, simplesmente porque contou os seus segredos. O ataque à sua intimidade é inesperado.  Como resultado você sai da conversa estraçalhado, machucado.

O segundo modo é o ouvir desatento, com desprezo, metaforizado pela imagem do porco. É o modo de ser que desvaloriza o que ouve. Na verdade, ignora porque não entende o valor e o significado do que está sendo dito. Então, joga na lama e pisa, ou seja, despreza e não dá atenção. Quem fala sai vazio e humilhado com uma conversa assim.

Estes riscos não tiram de nós a necessidade humana de alguém que nos escute. A questão é que estas formas inadequadas de ser podem agir dentro de nós contra nós mesmos. Como? Destruindo ou desprezando nossas mais belas e construtivas iniciativas, incluindo o desejo sincero de estar diante de alguém que nos ouça de verdade.

Psicólogo

Carlos Augusto R. de Souza

Fone: (19) 3241-3281