Os pensamentos estão sendo roubados pelo computador: O que fazer?

Young woman suffering from a severe depression/anxiety

A doença mental é democrática, atinge todas as classes sociais. Quando uma família detecta em seu meio alguém com sofrimento mental agudo, surgem as questões: O que fazer? Para onde levar? Como cuidar da melhor maneira? Internar ou não internar? Onde? São questões que exigem uma ação rápida.

Em meu artigo “Para dizer que não falei…” trato do cuidado ao paciente com pensamento ou tentativa de suicídio. Informo que é preciso leva-lo a um profissional de saúde mental, psicólogo ou psiquiatra para avaliação, ou diretamente a um pronto socorro se o paciente está em crise (agitado). Pois, se a tentativa de suicídio foi realizada necessita-se de um manejo complexo de cuidado (atenção de vários profissionais, remédios, aparelhos, etc.). Estes são casos agudos, e no pronto socorro ele vai poder ser medicado, monitorado e cuidado na crise.

Isso vale também, para outros transtornos de características psicóticas, em que o paciente diz estar ouvindo vozes, sentindo-se perseguido, isolado, relata que está vendo vultos, que o jornal da televisão está contando sobre sua vida, ou seus pensamentos estão sendo roubados pela TV ou computador. Principalmente, se há agitação intensa, e percebe-se que a vida do paciente está em risco. O melhor caminho é leva-lo ao pronto socorro, antes de ir a um consultório particular. Lá ele vai ser medicado e monitorado, e quando sair da crise, será encaminhado aos profissionais de saúde mental (psicólogo e psiquiatra, Terapeutas ocupacionais) para continuar o tratamento, seja na rede pública ou privada.

Se a pessoa vai ao Centro de Saúde (CS), ela será recebida pelo clínico geral ou equipe de saúde mental (psiquiatra, psicólogo e terapeuta ocupacional).  Diagnosticada a crise aguda, que precisa de mais atenção, ela será encaminhada ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) ou ao pronto socorro se houver a necessidade de internação. Ao sair da crise no CAPS, ela será reencaminhada de volta ao Centro de Saúde para continuar o tratamento com a equipe de saúde mental do CS.

Estes manejos surgem quando alguma coisa aconteceu, ou a família tem certeza que a pessoa não está bem. Geralmente a pessoa já não estava bem a muito tempo e a família não tinha percebido. A questão é: como posso perceber quando alguém de minha família ou eu mesmo preciso de ajuda de um profissional da saúde mental? Como me antecipar à crise? Esta é uma pergunta que beira a ansiedade.

No caso da pessoa psicótica, antes a pessoa era falante, sorria, se divertia, e de repente ficou quieta, parecendo que está com medo ou desconfiada, não quer contato, não fala coisa com coisa. Ela se isola, ou fica extremamente falante, como nunca foi, e a família fica preocupada, pois percebe que a pessoa está estranha, e seus comportamentos estranhos também. Isso pode acometer jovens e até idosos.

É verdade que cada transtorno mental tem suas peculiaridades e seus arranjos sintomatológicos. O importante é perceber, no caso de um transtorno psicótico, esse elemento estranho, de mudança repentina que acomete ao outro. Ai é importante levar em conta algo não é matemático, a intuição. Essa percepção que temos para além dos fatos, sobre alguma coisa, ou sobre uma pessoa, ou sobre si. E esta intuição nos mostra que algo no outro que não está batendo, no pensamento e no sentimento, que passa como algo vago, distante, diferente, anormal. E a gente sente isso no corpo, no pensamento, e na alma.

Freud chama isso de transferência. A transferência é essa “verdade” que vem do outro em forma de sentimento e nos informa. Essa informação chega nos desorganizando, causando  estranheza em nós, bloqueando nosso pensamento e ação. Neste caso precisamos conversar com alguém de fora da família sobre o que está acontecendo com a pessoa, e o que estamos percebendo. E o mais indicado é um profissional de saúde.

Mas, e se você percebe em si uma sensação de estranhamento, um vazio que você não sabe exatamente  de onde vem ou como chegou, e um tédio que não vai embora, a despeito de sua vida estar aparentemente arrumada, organizada e completa? Isso não é uma psicose, mas vale uma boa conversa.

Carlos Augusto Rodrigues de Souza

Psicólogo

Mestre em Psicologia Clínica (PUC-SP)

Fone: 3241-3281

Seu sofrimento é único

monarch butterfly

A resistência em tratar um sofrimento psíquico (mental) é natural. Num primeiro momento, hesitamos. Depois, assumimos que precisamos de ajuda, e o procuramos. Mas, há aqueles que ignoram, escondem, guardam e carregam o sofrimento dentro de si. Até que num determinado momento este sofrimento se impõe e transborda. E quando o sofrimento transborda não tem mais jeito. A necessidade de ajuda é urgente.

Ajuda urgente significa que a pessoa não consegue mais trabalhar, sente-se estagnada, o relacionamento afetivo fica insuportável, e a pessoa não aguenta mais a si mesma. Sua mente trava, e seu corpo grita através de várias dores. São sintomas das mais variadas ordens. Estes sintomas são formas de ordenar, de organizar o próprio sofrimento.

Não poucas vezes fui indagado se já tratei de pessoas com determinado sintoma. A resposta é sim e não. Sim já tratei de pessoas deprimidas, ansiosas, com problemas psicossomáticos e problemas em seus relacionamentos, pânico, e por aí vai. Mas estas formas de organização do sofrimento são apenas a ponta do iceberg.

Cada pessoa é única, e sua história singular. Logo, seu sofrimento também será único e singular. Mesmo que seus sintomas sejam semelhantes a uma organização depressiva, por exemplo, sua depressão será única no mundo. Não existirá nenhuma semelhante à sua.

Por isso, mesmo com todo conhecimento e experiência profissional, diante de um paciente novo…  sei que aquela experiência será diferente, que terei diante de mim uma pessoa que porta uma verdade sobre si e sobre o mundo únicas, que só ela tem. Seu percurso psicoterápico, portanto, será único, singular, e novo.

O sofrimento tem uma organização que comunica algo sobre a vida da pessoa. Mais ainda, ele mostra o quanto esta pessoa é potente. Mas esta potência, que neste momento, gravita em torno do sofrimento, faz falta em outras áreas de sua vida.

É isso que dá a ela a sensação de falta de energia e de vazio. A pessoa desloca uma força significativa para conter o próprio sofrimento. À medida que a pessoa vai sendo cuidada, sua força vai sendo liberada, para ser usada de forma criativa, em prol de si mesma, do próximo, e de seus projetos de vida.

Para não dizer que não falei……..

Depressed Teenage Girl

Eu prefiro não falar desse tema. Dele só se fala baixinho, quase sussurrando. Ninguém gosta de falar dele. É vergonhoso. Imagina se descobrem que alguém da família foi acometido de tamanho mal. O que vão dizer de mim?

O sociólogo Émile Durkheim fez disso o tema de sua pesquisa sociológica. Diz ele que isto acontece sempre que há um estado de anomia na sociedade. Anomia significa ausência de lei, quebra da lei. Ou poderíamos dizer, de uma quebra da lei dentro de si mesmo, psíquica.

Talvez seja por isso. É algo que vai contra a lei. Até boletim de ocorrência tem que fazer. Então é difícil até falar. É como se estivéssemos cometendo um pecado pessoal, social e até espiritual. Quando alguém vive esse drama fora da lei os jornais não noticiam. E se noticiam, dizem que a pessoa foi encontrada. De ativa passa a ser passiva.

Sei que estou enrolando para dizer…. Mas não quero falar. Desse tema só se fala dando voltas, abstraindo, quase dizendo sem dizer, por inferências ou metáforas fora da ordem. Imagino que você sabe do que estou falando, se é que já não desistiu de continuar a leitura.

A questão é que para se chegar onde se chegou a pessoa deu várias voltas e mostras, recados, pedidos de socorro, e não foi ouvida ou entendida. Ou não se sentiu ouvida e entendida apesar dos esforços de quem estava ao lado. Até que chegou num momento sem volta. Então, aconteceu. O que fazer? O que levou a tal ato impensado?

É assim… ela quase disse, deu todas as amostras. Muitas mandam cartas, escolhem os caminhos da execução, preparam o cenário e avisam. Mas quem está ao lado não acredita. Diz de si para si e para outras pessoas, “quem quer mesmo não fala, vai e faz.” Mas não é bem assim.

Se recebo alguém e percebo que sua depressão é avassaladora, pergunto sem rodeios: “Você tem pensamentos de fazer algo contra si? Você pensa em se matar? Você tem planos? O que você pensou? Isto não é indução. O melhor é a pessoa falar para eu poder ajudá-la. Só o fato de falar com alguém, de confiar em alguém já é o início da ajuda à pessoa.

Se alguém chega e diz que vai fazer algo contra si, que já sabe como, e já tem os meios para colocá-lo em pratica, não tenha dúvidas ela vai fazer, aja! Com isso não se brinca. Eu ajo imediatamente. Não quero ter surpresas.

Faço alianças com esta pessoa…Chamo a família e a oriento, e quando não há família chamo os amigos significativos, enfim quem naquele momento pode dar suporte efetivo. Também, encaminho ou levo ao médico ou ao pronto socorro, se não há alguém disponível para isso. Enfim, ajo. A vida é um bem a ser cuidado.

Ah, ia esquecendo de dizer, depois que uma pessoa comete algo contra si, a possibilidade de vir cometer outro ato é altíssima segundo a literatura científica. Então toda ajuda é bem-vinda: as agências de sentido, como as igrejas e instituições de pertencimento, o remédio dado com orientação medica, a psicoterapia, o apoio de amigos e familiares….  Enfim, tudo o que for possível para disponibilizar cuidado efetivo.

É assim a pessoa antes do ato suicida: uma vontade imensa de falar sem se permitir dizer. Uma vontade imensa de gritar sem poder se ouvir, sem se poder dizer, pois lhe falta voz, lhe falta o ar, estrangulada pela angustia que lhe sufoca e quase grita, na ante sala do não ser, em seu estágio final da depressão.

Como Escolher Um Psicólogo

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“Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos, caso contrário, estes as pisarão e aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão.” Evangelho de Mateus

Há momentos que desejamos e precisamos que alguém nos ouça de verdade. A medida que o tempo passa, este desejo pode se tornar uma necessidade. E aí surge a pergunta: Com quem posso falar? Quem pode me escutar?

Há riscos quando dividimos com outros os segredos do nosso coração, eles são sagrados para nós. São tão preciosos, que escolho a dedo a quem falar. Pois é ingênuo achar que qualquer pessoa está pronta ouvir o que tenho para dizer. Não está.

Ouvir o outro pode ser uma tarefa penosa para algumas pessoas, por despreparo pessoal e técnico. Há assuntos que a pessoa não aguenta ouvir sem ser afetada. Quando isto acontece ela passa a ouvir o outro de dois modos possíveis.   São modos de ser e de interagir que causam sofrimentos a quem arrisca falar de sua vida a elas.

O primeiro modo é o ouvir agressivo, violento, metaforizado pela imagem dos cães, em que o outro é destruído, ou devorado, simplesmente porque contou os seus segredos. O ataque à sua intimidade é inesperado.  Como resultado você sai da conversa estraçalhado, machucado.

O segundo modo é o ouvir desatento, com desprezo, metaforizado pela imagem do porco. É o modo de ser que desvaloriza o que ouve. Na verdade, ignora porque não entende o valor e o significado do que está sendo dito. Então, joga na lama e pisa, ou seja, despreza e não dá atenção. Quem fala sai vazio e humilhado com uma conversa assim.

Estes riscos não tiram de nós a necessidade humana de alguém que nos escute. A questão é que estas formas inadequadas de ser podem agir dentro de nós contra nós mesmos. Como? Destruindo ou desprezando nossas mais belas e construtivas iniciativas, incluindo o desejo sincero de estar diante de alguém que nos ouça de verdade.

Psicólogo

Carlos Augusto R. de Souza

Fone: (19) 3241-3281

Fazer Psicoterapia…

Frequentemente ouço esta pergunta no consultório, ou mesmo em conversas informais: quanto tempo dura uma psicoterapia? Quando vou receber alta? Quando tem fim uma análise? O que é fazer uma psicoterapia?

As vezes a questão vem acompanhada da explicação: “eu não quero ficar dependente do psicólogo”. Em certos casos há por detrás uma questão financeira: “Será que vou conseguir pagar?” Independente da razão dada, a preocupação é legitima.

Há algumas tentativas de descrever a riqueza do encontro terapêutico com analogias. Todas elas revelam algum aspecto da relação, mas, como toda analogia, há limitações nestas explicações.

Um professor de psicologia usou a analogia do trem para descrever o que se passa numa psicoterapia. Dizia ele que numa psicoterapia o paciente e o terapeuta estão como que numa viagem de trem, em que o paciente está sentado numa poltrona ao lado da janela, descrevendo o que vê para seu companheiro de viagem, o psicoterapeuta, que está na poltrona ao lado. O psicoterapeuta está ali, escutando atentamente tudo o que os olhos do paciente vê e relata.

Essa analogia, lança luz sobre três questões: Primeiro, a psicoterapia é como uma viagem, um percurso. Este percurso leva um tempo para acontecer.   E não adianta apressar o ritmo do trem, e nem da fala do paciente. Segundo, a condução da conversa está nas mãos, nos olhos e na fala do paciente. Ele é quem recorta da paisagem da sua vida o assunto a ser falado, pensado ou digerido com seu companheiro de viagem. É nessa interlocução que a viagem acontece. E terceiro, é sempre possível sair do trem na próxima estação. Nem que for para tomar uma água e voltar.

A questão é escolher um companheiro de viagem acordado, que não durma, que saiba ouvir, esteja vivo, atento, seja humorado e que saiba conversar sobre os vários cenários de sua experiência de vida.

Há ainda uma metáfora que eu gosto de usar. Digo que a psicoterapia é como uma planta que está em desenvolvimento, quer crescer forte, bonita e robusta. Mas algo acontece e atrapalha o seu crescimento. Então, é colocado um suporte ao lado da planta, para auxilia-la a crescer. No início, o suporte colocado parece maior que a planta. Mas, à medida que a planta é cuidada, fica forte e maior que o suporte. Então o suporte cai sozinho, fica sem função ali, pequeno. E a planta, agora forte, segue sua vida.

A imagem é bastante clara, o analista ou psicoterapeuta, é como o suporte. A medida que o tempo passa, e o paciente fica forte, a função do psicoterapeuta diminui e até desaparece. E a psicoterapia acaba. Ou seja, enquanto o paciente cresce e se fortalece, o psicoterapeuta, inversamente tem a sua função diminuída, e perde a importância como suporte na vida do paciente.

Eu desconfio que a pergunta o quanto dura uma a psicoterapia, seja um forma de dizer o quanto é duro e difícil falar de si mesmo e pensar sobre a própria vida. E é verdade. Mas é o preço a se pagar para cuidar de si e viver melhor.

Espelhos de mim

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  “Porque você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão deixe-me tirar o cisco do seu olho, quando há uma viga no seu? (…) tira primeiro a viga do seu olho, então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.”  Evangelho de Mateus

O que impede as pessoas de se verem e se mostrarem como são nos relacionamentos? Quando um encontro de verdade acontece?

A epigrafe acima fala de uma pessoa com o olho irritado, que esfrega seu olho para se livrar de algo. Ela esfrega, esfrega, e nada. Quanto mais esfrega, mais vermelho fica. Isto a irrita. De repente, ela percebe uma outra pessoa com os olhos ainda mais vermelhos que o seu. “É um cisco!” Esquecendo do seu problema diz: “Deixe-me ajuda-la?”.

Isso pode parecer um grande desprendimento. Mas é uma metáfora de como vemos nossos problemas espelhados em outras pessoas.como se o outro fosse um laboratório, ou espelho, a partir de quem tentamos resolver nossos problemas, sem dor. Freud descreveu esse fenômeno humano chamando-o de transferência. Eu transfiro para o outro algo que em mim é difícil reconhecer.

Nós transferimos problemas, sentimentos, ideias, ou situações. Nesse processo de transferência há perdas. A primeira perda é ignorar a própria dor, o próprio sentimento, aumentando o sofrimento e o desconhecimento de si. A segunda perda é prejudicar o relacionamento, ampliando o distanciamento entre a pessoas envolvidas, trazendo a solidão.

A questão da transferência é sua tendência à repetição. É como se eu ficasse o tempo todo, independente do ambiente ou das pessoas, vendo ciscos nos olhos dos outros. Neste círculo repetitivo o novo sempre me escapa.

A boa notícia é que essa repetição, paradoxalmente, traz uma nota de esperança, a de encontrar alguém que me ajude a lidar com estas forças ignoradas em mim.

Haja Luz

Abrir o coração à outra pessoa, falar do sofrimentos e dos sonhos para alguém confiável é saudável, é um presente para a humanidade, recomendado inclusive nas Escrituras, esse tesouro de palavras reunidas, que associa a fala da dor à cura.

A psicanalista francesa Françoise Dolto em Os Evangelhos à Luz da Psicanálise diz que o papel da análise é possibilitar perdão, ou seja, a pessoa poder se perdoar. Falar a alguém do próprio sofrimento é como bálsamo refrescante sobre uma ferida aberta. Devidamente cuidada, vai se fechando, fechando… e cicatriza.

Para isso tem que haver a interlocução de alguém idôneo. Suponho que muitos vezes jogamos “perolas aos porcos”. Ou seja, falamos para pessoas que, mesmo sendo boas e tendo ótimas intenções, não estão preparadas, humana e tecnicamente, e por isso não sabem valorizar nossos sentimentos, e pouco compreendem nossa história. Encontrar alguém idôneo para ouvir é um achado. E isso é possível.

Ao falarmos para uma pessoa idônea sobre o que acontece conosco, novos mundos e possibilidades vão se desenhando para nós. De repente, dizemos coisas que existiam em nosso interior sem nosso conhecimento. É como se disséssemos para dentro de nós mesmos: “Haja luz”. É sempre uma surpresa!

“Abrir o coração” é retirar de nós entulhos de sofrimentos, cacos de vidas, restos que resistem, e que nos impedem de sermos quem somos ou podemos ser. Mas também é encontrar palavras e sentimentos esquecidos, que vão gerar novas e leves maneiras de viver. Isso não é para qualquer um. É preciso ter coragem. E coragem a gente conquista.

Ansiedade: Corpo Sem Cabeça

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Lucidez para fazer escolhas, quem não quer? Lucidez vem de luz. E o que está iluminado se pode ver, se precaver dos escorregões e das quedas, e caminhar na direção do foco.

Fui visitar um amigo. No hall de entrada de sua casa havia uma estante com várias lâmpadas. Vendo o meu interesse, disse: “Estas são lâmpadas de vários lugares do mundo.”

“A minha lâmpada preferida é esta…”, indicando uma lâmpada de barro achatada. “É uma lâmpada que se amarra aos pés, e à medida que damos um passo, ela ilumina o próximo passo, e assim vamos caminhando, passo a passo, de luz em luz.”  Viver é andarmos passo a passo com a luz que temos. Mas, na ansiedade as pernas travam.

Na ansiedade, o que desejamos e procuramos é a luz do farolete, a que ilumina lá longe, cada detalhe do caminho. Na ansiedade, a luz do passo seguinte está turvada. Por que?  Faltam olhos para ver e cabeça para decidir. A cabeça está longe do corpo, pensando mil possibilidades de controlar o futuro. Falta luz.

Trazer a cabeça de volta para o corpo, recuperar os olhos, a capacidade para ver a luz do próximo passo, e caminhar.  Este é desafio de uma caminhada psicoterápica.Ou seja, destravar as pernas.