2015

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O natal é o nascimento do filho de Deus no mundo. Em nosso calendário o natal anda de mãos dadas com o ano novo. Primeiro vem o nascimento do menino Jesus, e depois o novo ano.

O ano de 2014 ficou velho. Veio o nascimento de Jesus, e nos deu forças para finaliza-lo. É como se estivéssemos sentados na ponte da vida, com Severino de Morte e Vida Severina, refletindo sobre a caminhada, os encontros, suas vitorias e também as derrotas, os dissabores… E de repente, vem a notícia do nascimento do menino. E essa notícia lhe dá forças para dali se levantar e celebrar.

Penso que o nascimento de Jesus vem no fim do ano, para indicar o fim de um ciclo, e o nascimento do novo. 2015 inaugura uma nova era em nossa vida. Uma nova oportunidade para viver.  Alguns estão em férias, outros estão voltando ao trabalho, à escola, mas todos têm a oportunidade de renovar o sentido da própria vida, reafirmar valores, curar feridas abertas, dar significado a própria existência, e reafirmar as alianças de amor.

Tempo (kairós) de oportunidade. Isso é o que foi doado a todos nós de novo. Aliás, isso é perdão. Perdoar é doar a si e ao outro uma nova chance, um nova oportunidade de ser diferente, de pensar, fazer e construir diferente, e de viver melhor.

Como Escolher Um Psicólogo

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“Não deem o que é sagrado aos cães, nem atirem suas pérolas aos porcos, caso contrário, estes as pisarão e aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão.” Evangelho de Mateus

Há momentos que desejamos e precisamos que alguém nos ouça de verdade. A medida que o tempo passa, este desejo pode se tornar uma necessidade. E aí surge a pergunta: Com quem posso falar? Quem pode me escutar?

Há riscos quando dividimos com outros os segredos do nosso coração, eles são sagrados para nós. São tão preciosos, que escolho a dedo a quem falar. Pois é ingênuo achar que qualquer pessoa está pronta ouvir o que tenho para dizer. Não está.

Ouvir o outro pode ser uma tarefa penosa para algumas pessoas, por despreparo pessoal e técnico. Há assuntos que a pessoa não aguenta ouvir sem ser afetada. Quando isto acontece ela passa a ouvir o outro de dois modos possíveis.   São modos de ser e de interagir que causam sofrimentos a quem arrisca falar de sua vida a elas.

O primeiro modo é o ouvir agressivo, violento, metaforizado pela imagem dos cães, em que o outro é destruído, ou devorado, simplesmente porque contou os seus segredos. O ataque à sua intimidade é inesperado.  Como resultado você sai da conversa estraçalhado, machucado.

O segundo modo é o ouvir desatento, com desprezo, metaforizado pela imagem do porco. É o modo de ser que desvaloriza o que ouve. Na verdade, ignora porque não entende o valor e o significado do que está sendo dito. Então, joga na lama e pisa, ou seja, despreza e não dá atenção. Quem fala sai vazio e humilhado com uma conversa assim.

Estes riscos não tiram de nós a necessidade humana de alguém que nos escute. A questão é que estas formas inadequadas de ser podem agir dentro de nós contra nós mesmos. Como? Destruindo ou desprezando nossas mais belas e construtivas iniciativas, incluindo o desejo sincero de estar diante de alguém que nos ouça de verdade.

Psicólogo

Carlos Augusto R. de Souza

Fone: (19) 3241-3281

Fazer Psicoterapia…

Frequentemente ouço esta pergunta no consultório, ou mesmo em conversas informais: quanto tempo dura uma psicoterapia? Quando vou receber alta? Quando tem fim uma análise? O que é fazer uma psicoterapia?

As vezes a questão vem acompanhada da explicação: “eu não quero ficar dependente do psicólogo”. Em certos casos há por detrás uma questão financeira: “Será que vou conseguir pagar?” Independente da razão dada, a preocupação é legitima.

Há algumas tentativas de descrever a riqueza do encontro terapêutico com analogias. Todas elas revelam algum aspecto da relação, mas, como toda analogia, há limitações nestas explicações.

Um professor de psicologia usou a analogia do trem para descrever o que se passa numa psicoterapia. Dizia ele que numa psicoterapia o paciente e o terapeuta estão como que numa viagem de trem, em que o paciente está sentado numa poltrona ao lado da janela, descrevendo o que vê para seu companheiro de viagem, o psicoterapeuta, que está na poltrona ao lado. O psicoterapeuta está ali, escutando atentamente tudo o que os olhos do paciente vê e relata.

Essa analogia, lança luz sobre três questões: Primeiro, a psicoterapia é como uma viagem, um percurso. Este percurso leva um tempo para acontecer.   E não adianta apressar o ritmo do trem, e nem da fala do paciente. Segundo, a condução da conversa está nas mãos, nos olhos e na fala do paciente. Ele é quem recorta da paisagem da sua vida o assunto a ser falado, pensado ou digerido com seu companheiro de viagem. É nessa interlocução que a viagem acontece. E terceiro, é sempre possível sair do trem na próxima estação. Nem que for para tomar uma água e voltar.

A questão é escolher um companheiro de viagem acordado, que não durma, que saiba ouvir, esteja vivo, atento, seja humorado e que saiba conversar sobre os vários cenários de sua experiência de vida.

Há ainda uma metáfora que eu gosto de usar. Digo que a psicoterapia é como uma planta que está em desenvolvimento, quer crescer forte, bonita e robusta. Mas algo acontece e atrapalha o seu crescimento. Então, é colocado um suporte ao lado da planta, para auxilia-la a crescer. No início, o suporte colocado parece maior que a planta. Mas, à medida que a planta é cuidada, fica forte e maior que o suporte. Então o suporte cai sozinho, fica sem função ali, pequeno. E a planta, agora forte, segue sua vida.

A imagem é bastante clara, o analista ou psicoterapeuta, é como o suporte. A medida que o tempo passa, e o paciente fica forte, a função do psicoterapeuta diminui e até desaparece. E a psicoterapia acaba. Ou seja, enquanto o paciente cresce e se fortalece, o psicoterapeuta, inversamente tem a sua função diminuída, e perde a importância como suporte na vida do paciente.

Eu desconfio que a pergunta o quanto dura uma a psicoterapia, seja um forma de dizer o quanto é duro e difícil falar de si mesmo e pensar sobre a própria vida. E é verdade. Mas é o preço a se pagar para cuidar de si e viver melhor.

Espelhos de mim

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  “Porque você repara no cisco que está no olho do seu irmão, e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão deixe-me tirar o cisco do seu olho, quando há uma viga no seu? (…) tira primeiro a viga do seu olho, então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão.”  Evangelho de Mateus

O que impede as pessoas de se verem e se mostrarem como são nos relacionamentos? Quando um encontro de verdade acontece?

A epigrafe acima fala de uma pessoa com o olho irritado, que esfrega seu olho para se livrar de algo. Ela esfrega, esfrega, e nada. Quanto mais esfrega, mais vermelho fica. Isto a irrita. De repente, ela percebe uma outra pessoa com os olhos ainda mais vermelhos que o seu. “É um cisco!” Esquecendo do seu problema diz: “Deixe-me ajuda-la?”.

Isso pode parecer um grande desprendimento. Mas é uma metáfora de como vemos nossos problemas espelhados em outras pessoas.como se o outro fosse um laboratório, ou espelho, a partir de quem tentamos resolver nossos problemas, sem dor. Freud descreveu esse fenômeno humano chamando-o de transferência. Eu transfiro para o outro algo que em mim é difícil reconhecer.

Nós transferimos problemas, sentimentos, ideias, ou situações. Nesse processo de transferência há perdas. A primeira perda é ignorar a própria dor, o próprio sentimento, aumentando o sofrimento e o desconhecimento de si. A segunda perda é prejudicar o relacionamento, ampliando o distanciamento entre a pessoas envolvidas, trazendo a solidão.

A questão da transferência é sua tendência à repetição. É como se eu ficasse o tempo todo, independente do ambiente ou das pessoas, vendo ciscos nos olhos dos outros. Neste círculo repetitivo o novo sempre me escapa.

A boa notícia é que essa repetição, paradoxalmente, traz uma nota de esperança, a de encontrar alguém que me ajude a lidar com estas forças ignoradas em mim.

Haja Luz

Abrir o coração à outra pessoa, falar do sofrimentos e dos sonhos para alguém confiável é saudável, é um presente para a humanidade, recomendado inclusive nas Escrituras, esse tesouro de palavras reunidas, que associa a fala da dor à cura.

A psicanalista francesa Françoise Dolto em Os Evangelhos à Luz da Psicanálise diz que o papel da análise é possibilitar perdão, ou seja, a pessoa poder se perdoar. Falar a alguém do próprio sofrimento é como bálsamo refrescante sobre uma ferida aberta. Devidamente cuidada, vai se fechando, fechando… e cicatriza.

Para isso tem que haver a interlocução de alguém idôneo. Suponho que muitos vezes jogamos “perolas aos porcos”. Ou seja, falamos para pessoas que, mesmo sendo boas e tendo ótimas intenções, não estão preparadas, humana e tecnicamente, e por isso não sabem valorizar nossos sentimentos, e pouco compreendem nossa história. Encontrar alguém idôneo para ouvir é um achado. E isso é possível.

Ao falarmos para uma pessoa idônea sobre o que acontece conosco, novos mundos e possibilidades vão se desenhando para nós. De repente, dizemos coisas que existiam em nosso interior sem nosso conhecimento. É como se disséssemos para dentro de nós mesmos: “Haja luz”. É sempre uma surpresa!

“Abrir o coração” é retirar de nós entulhos de sofrimentos, cacos de vidas, restos que resistem, e que nos impedem de sermos quem somos ou podemos ser. Mas também é encontrar palavras e sentimentos esquecidos, que vão gerar novas e leves maneiras de viver. Isso não é para qualquer um. É preciso ter coragem. E coragem a gente conquista.

Ansiedade: Corpo Sem Cabeça

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Lucidez para fazer escolhas, quem não quer? Lucidez vem de luz. E o que está iluminado se pode ver, se precaver dos escorregões e das quedas, e caminhar na direção do foco.

Fui visitar um amigo. No hall de entrada de sua casa havia uma estante com várias lâmpadas. Vendo o meu interesse, disse: “Estas são lâmpadas de vários lugares do mundo.”

“A minha lâmpada preferida é esta…”, indicando uma lâmpada de barro achatada. “É uma lâmpada que se amarra aos pés, e à medida que damos um passo, ela ilumina o próximo passo, e assim vamos caminhando, passo a passo, de luz em luz.”  Viver é andarmos passo a passo com a luz que temos. Mas, na ansiedade as pernas travam.

Na ansiedade, o que desejamos e procuramos é a luz do farolete, a que ilumina lá longe, cada detalhe do caminho. Na ansiedade, a luz do passo seguinte está turvada. Por que?  Faltam olhos para ver e cabeça para decidir. A cabeça está longe do corpo, pensando mil possibilidades de controlar o futuro. Falta luz.

Trazer a cabeça de volta para o corpo, recuperar os olhos, a capacidade para ver a luz do próximo passo, e caminhar.  Este é desafio de uma caminhada psicoterápica.Ou seja, destravar as pernas.