Meu Nome é Omran

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– Olha essa imagem!

Fui buscar um pouco de socorro com os de casa.

– É um boneco do Chuck?

Essa resposta me dilacerou.

– Não.

Respondi entristecido.

– Quem é o Chuck?

Insisti na busca por socorro…

– Um filme de terror, de um boneco assassino.

Onram… Um olhar perdido no infinito do nada. É uma criança de 5 anos… em estado de choque, petrificada pelo medo, pela dor e pelo sofrimento de um bombardeio em sua cidade Aleppo, que acabara de sofrer.

Quando o sofrimento transborda para além do suportável para o ser humano ele pode petrificar, plastificar e desumanizar.

Omran é um sobrevivente da guerra na Síria. Até quando? Há pouco li que Onram perdeu seu irmão de 10 anos que não resistiu aos ferimentos do bombardeio. Mais um choque? Não sei…

Fico olhando para Onram… fico imaginando quanta vida havia nesta criança. Quantos sorrisos, quanta vivacidade. Mas sua cidade está destruída, e seu país, e sua escola, e sua casa, e seu irmão.

Onram contrasta com a cadeira limpa, higienizada e colorida da enfermaria que o acolheu. Só uma coisa os similariza: a imobilidade, a coisificação. Junto da cadeira Onram é uma mobília que incomoda, um boneco sujo, um horror.

Continuo olhando para ele, e vejo para além de sua imobilidade, um menino lindo. Nem o sangue em sua face ferida, um de seus olhos inchado e quase fechado, sua roupa suja e empoeirada, ou o ferimento em sua perna, ofuscam a sua beleza.

Não, definitivamente Onram é uma linda criança vivendo o terror de uma guerra, em que adultos plastificados e insensíveis ao seu sofrimento, tornaram-se bonecos assassinos, transformando crianças em coisas.   

Sim, o resgate de Omran é o resgaste de nossa própria humanidade. 

 

Carlos Augusto Rodrigues de Souza

Psicólogo Clínico, Psicoterapeuta

Mestre em Psicologia Clínica – PUC-SP

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