
“Abrir o coração” à outra pessoa, falar do sofrimento e dos sonhos para alguém confiável é saudável, é um presente para a humanidade, recomendado inclusive nas Escrituras, esse tesouro de palavras reunidas, que associa a fala da dor à cura.
A psicanalista francesa Françoise Dolto em Os Evangelhos à Luz da Psicanálise diz que o papel da análise, ou psicoterapia, é possibilitar perdão, ou seja, a pessoa poder se perdoar. Falar a alguém do próprio sofrimento, é como bálsamo refrescante sobre uma ferida aberta. Devidamente cuidada, vai se fechando, fechando… e cicatriza.
Para isso tem que haver a interlocução de alguém idôneo. Suponho que muitos vezes jogamos “pérolas aos porcos”. Ou seja, falamos para pessoas que, mesmo sendo boas e tendo ótimas intenções, não estão preparadas, humana e tecnicamente, e por isso não sabem valorizar nossos sentimentos, e pouco compreendem nossa história. Encontrar alguém idôneo para ouvir é um achado. E isso é possível.
Ao falarmos para uma pessoa idônea sobre o que acontece conosco, novos mundos e possibilidades vão se desenhando para nós. De repente, dizemos coisas que existiam em nosso interior sem nosso conhecimento. É como se disséssemos para dentro de nós mesmos: “Haja luz”. É sempre uma surpresa!
“Abrir o coração” é retirar de nós entulhos de sofrimentos, cacos de vidas, restos que resistem, e que nos impedem de sermos quem somos ou podemos ser. Mas também é encontrar palavras e sentimentos esquecidos, que vão gerar novas e leves maneiras de viver. Isso não é para qualquer um. É preciso ter coragem. E coragem a gente conquista.