Frequentemente ouço esta pergunta no consultório, ou mesmo em conversas informais: quanto tempo dura uma psicoterapia? Quando vou receber alta? Quando tem fim uma análise? O que é fazer uma psicoterapia?
As vezes a questão vem acompanhada da explicação: “eu não quero ficar dependente do psicólogo”. Em certos casos há por detrás uma questão financeira: “Será que vou conseguir pagar?” Independente da razão dada, a preocupação é legitima.
Há algumas tentativas de descrever a riqueza do encontro terapêutico com analogias. Todas elas revelam algum aspecto da relação, mas, como toda analogia, há limitações nestas explicações.
Um professor de psicologia usou a analogia do trem para descrever o que se passa numa psicoterapia. Dizia ele que numa psicoterapia o paciente e o terapeuta estão como que numa viagem de trem, em que o paciente está sentado numa poltrona ao lado da janela, descrevendo o que vê para seu companheiro de viagem, o psicoterapeuta, que está na poltrona ao lado. O psicoterapeuta está ali, escutando atentamente tudo o que os olhos do paciente vê e relata.
Essa analogia, lança luz sobre três questões: Primeiro, a psicoterapia é como uma viagem, um percurso. Este percurso leva um tempo para acontecer. E não adianta apressar o ritmo do trem, e nem da fala do paciente. Segundo, a condução da conversa está nas mãos, nos olhos e na fala do paciente. Ele é quem recorta da paisagem da sua vida o assunto a ser falado, pensado ou digerido com seu companheiro de viagem. É nessa interlocução que a viagem acontece. E terceiro, é sempre possível sair do trem na próxima estação. Nem que for para tomar uma água e voltar.
A questão é escolher um companheiro de viagem acordado, que não durma, que saiba ouvir, esteja vivo, atento, seja humorado e que saiba conversar sobre os vários cenários de sua experiência de vida.
Há ainda uma metáfora que eu gosto de usar. Digo que a psicoterapia é como uma planta que está em desenvolvimento, quer crescer forte, bonita e robusta. Mas algo acontece e atrapalha o seu crescimento. Então, é colocado um suporte ao lado da planta, para auxilia-la a crescer. No início, o suporte colocado parece maior que a planta. Mas, à medida que a planta é cuidada, fica forte e maior que o suporte. Então o suporte cai sozinho, fica sem função ali, pequeno. E a planta, agora forte, segue sua vida.
A imagem é bastante clara, o analista ou psicoterapeuta, é como o suporte. A medida que o tempo passa, e o paciente fica forte, a função do psicoterapeuta diminui e até desaparece. E a psicoterapia acaba. Ou seja, enquanto o paciente cresce e se fortalece, o psicoterapeuta, inversamente tem a sua função diminuída, e perde a importância como suporte na vida do paciente.
Eu desconfio que a pergunta o quanto dura uma a psicoterapia, seja um forma de dizer o quanto é duro e difícil falar de si mesmo e pensar sobre a própria vida. E é verdade. Mas é o preço a se pagar para cuidar de si e viver melhor.
Grande amigo!!!!! Tenho gostado muito de refletir sobre suas palavras. São questões simples , do dia-a-dia, mas muito difíceis de explicar. Vc as tem colocado muito bem!!!
CurtirCurtido por 1 pessoa
Valeu Cilene, esse feedback é importante para ajustarmos a lupa. Abração.
CurtirCurtir